Escola da Ponte, uma escola pública diferente
A Escola da Ponte é uma escola pública, que aborda a Educação de uma forma mais co-participada e co-responsável.
Já tinha ouvido falar há alguns anos nesta escola. Cheguei até a assistir a palestras do Dr. José Pacheco, idealizador e fundador deste projeto, e já estava na minha lista de projetos a visitar há algum tempo.
Aproveitei a juntar-me a um grupo de amigos, e fomos fazer uma visita de estudo.
A Escola da Ponte tem turmas desde o pré-escolar ao 9º ano e mais de 200 alunos inscritos.
O que a diferencia do método de ensino convencional é que ali não existem propriamente aulas, pelo menos da forma como estamos habituados a ver: um professor a falar e os alunos a ouvirem. Ali são os alunos que definem o seu plano de trabalho. E como?
De 15 em 15 dias, cada aluno faz o seu plano quinzenal de trabalho com o tutor (é um professor que ele escolhe para o acompanhar durante o ano letivo). Este plano também depende do plano curricular do Ministério da Educação, pois trata-se de uma escola pública. Mas a matéria é desdobrada em pequenos objetivos, que são incluídos neste plano quinzenal.
A partir daqui, cada aluno faz o seu plano semanal e diário. O conceito de aula não existe, mas existe sim um espaço de partilha entre os alunos, em mesas redondas. Os grupos de trabalho são heterogéneos, escolhidos pelos alunos e validados pelos professores e o objetivo é que os alunos possam ajudar-se mutuamente em matérias diferentes, ao longo do dia. Não conseguindo obter ajuda de um colega, o professor está disponível na sala e pode ser solicitado a qualquer momento. No final do dia, o aluno faz uma auto-avaliação relativamente aos objetivos que tinha estipulado para aquele dia, se correu como o esperado ou não e porquê.
Duas vezes por semana, o aluno encontra-se com o seu tutor, para fazer o ponto de situação do seu plano e fazer pequenos ajustes.
Duas vezes por semana, o aluno encontra-se com o seu tutor, para fazer o ponto de situação do seu plano e fazer pequenos ajustes.
Em relação aos famosos trabalhos para casa, só existem para os mais pequenos e para os restantes em determinadas matérias como o Inglês e Francês: as chamadas oralidades.
Portanto, é o aluno que gere o seu método de trabalho, dentro dos limites estipulados.
Quando o aluno se sente preparado para ser avaliado a uma determinada matéria, regista a sua disponibilidade num mapa que está afixado na escola. A forma de avaliação também depende. Não existem propriamente testes, mas momentos de avaliação, que na maioria dos casos me pareceu que são orais.
Existem ainda reuniões de assembleia promovidas e facilitadas pelos alunos, onde toda a comunidade educativa pode assistir. Todas as segundas feiras de manhã, os membros pedem que se partilhem temas, balanço de responsabilidades, etc, para se abordarem posteriormente na assembleia.
Há também uma comissão de ajuda composta por alunos de diferentes idades, que resolve problemas da escola, nomeadamente conflitos, etc. Quando os alunos não conseguem resolver, a situação segue para o tutor, pais, e gestão.
Cada aluno tem ainda uma responsabilidade na escola, que pode ser verificar o estado dos livros e cadernos, o material, etc.
Um ponto curioso é que os pais pagam um valor no início do ano para a compra de todo o material escolar. Desta forma, o material é propriedade da escola e, portanto, de todos.
E o melhor de tudo, é que toda esta visita foi facilitada por duas alunas! :)
Gostei imenso da visita e da visão da escola. Acima de tudo, investe-se imenso no saber ser de cada criança, e no saber fazer de forma autónoma e responsável.
Deu-me vontade de ter filhos só para os pôr lá ;)
Mas achei curioso que a lista de espera para entrar não é assim tão grande... Parece que apesar de ser uma escola pública, (que obedece ao plano curricular do Ministério da Educação e, por isso,
qualquer aluno que tenha aproveitamento possui equivalência ao ano escolar
inscrito), os pais continuam a ter alguma resistência em colocar os seus filhos em sistemas menos convencionais. A localização da escola, em Santo Tirso, também não ajuda. Foi-me dito que a maioria dos alunos não é dali de perto. Há alunos a virem de longe todos os dias e até famílias que imigraram para Portugal para frequentarem esta escola.
É pena que mais escolas não tenham seguido os passos do Dr. José Pacheco. De facto foi preciso muito trabalho e coragem para implementar uma escola oficial alternativa e se calhar é por isso mesmo que não apareceu mais nenhuma até agora...
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