dezembro 29, 2021
dezembro 26, 2021
Biocompostagem em Matosinhos
Olá, bem-vindos!
Descobrimos que existe um biocompostor, bem perto da Câmara de Matosinhos, onde o nosso amigo João, dos No Footprint Nomads vai, diariamente, colocar os restos de comida da sua cozinha.
Estes restos de comida, que são matéria orgânica, vão ser decompostos durante o processo de compostagem, convertendo-se num ótimo fertilizante orgânico, rico em nutrientes para os nossos solos. Desta forma estamos a devolver à terra aquilo que ela nos dá, alimentando este circuito fechado, sem desperdício.
Nós comemos, devolvemos o desperdício, que por sua vez será convertido em fertilizante para os solos, de onde virá a comida que iremos comer novamente. Sem queimar, sem desperdiçar.
O João e a Sara são um casal de nómadas digitais comprometido com a redução da sua pegada ecológica nas viagens. Se quiseres saber mais sobre os seus projetos, segue a página deles No Footprint Nomads.
Beijinhos e abraços e encontramo-nos na próxima história!
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
https://overtrail.com
dezembro 23, 2021
Safira, uma aldeia abandonada
Olá, bem-vindos!
Fomos visitar Safira, uma aldeia abandonada no Alentejo pertencente ao concelho de Montemor-o-Novo, que vale a pena visitar!
Beijinhos e abraços e encontramo-nos na próxima história!
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
https://overtrail.com
novembro 30, 2021
A nossa viagem a Marraquexe
A nossa viagem a Marraquexe aconteceu fruto duma promoção da Ryanair. Já queríamos visitar há algum tempo e a promoção deu-nos o timing para finalmente a fazermos.Vou partilhar o que visitamos na nossa viagem de 4 dias, algumas dicas práticas em termos de voos, alojamento, alimentação, tours, costumes, principalmente se viajas enquanto mulher, e algumas reflexões pessoais. Não me focando, como já é habitual, tanto nos lugares turísticos (para isso já existem excelentes blogues de viagens), mas mais na minha experiência pessoal e no que senti e refleti. Acima de tudo, as minhas partilhas são um reflexo do meu olhar e não pretendem ser, em nenhum momento, uma enciclopédia de viagens.
Aconselho-te ainda a visitares o blogue dos nossos amigos do Viagens Mais pra Lá, que nos deram várias dicas importantes para a nossa viagem.
Se quiseres podes aceder às stories da nossa viagem a Marraquexe do Instagram. Partilhei por lá muito do que foi acontecendo e fomos sentindo ao longo da nossa viagem.
Voo
O nosso voo foi pela Ryanair e custou apenas 10€.
Como nós os dois trouxemos apenas estas duas mochilinhas, não pagamos mais nada de bagagem. Do aeroporto ao hotel tivemos um transfer oferecido por uma promoção do Booking e no regresso, como estávamos tão leves, fomos a caminhar do centro de Marraquexe ao aeroporto e não pagamos bus ou táxi. É só 1h15 a pé e nesse trajeto ficamos a conhecer bairros muito locais. Sentimo-nos sempre muito seguros e apreciados! No minimalismo poupa-se muito 😁👌
Normalmente estas promoções aparecem 1 a 2 meses antes da viagem. Estes preços de promoção não são em todas as datas, por isso às vezes o desafio é coincidir com a data em que se quer ir, mas havendo flexibilidade fica fácil.
Se subscreveres a newsletter das companhias aéreas, receberás as promoções. É assim que vou sabendo das boas oportunidades.
Documentação exigida
Para entrar em Marrocos precisamos de passaporte com validade de pelo menos 6 meses.
Na altura ficamos tão entusiasmados com o preço dos voos e dos hoteis, que nem nos apercebemos que Portugal estava na lista dos países que pedia certificado de vacinação covid + o teste PCR negativo para entrar em Marrocos. Isto foi logo uma grande desvantagem, porque tivemos que fazer este teste, que ainda é caro. Fizemo-lo na Cruz Vermelha por 60€/pessoa.
Alojamento
Nós queríamos ter a experiência de ficar numa Riad, que no fundo são as casas antigas na Medina, equivalentes ao nosso turismo de habitação. É habitual estas casas terem pátios interiores lindíssimos no centro e os quartos à volta.
Dada a situação de pandemia em que vivemos, havia imensas promoções fabulosas de última hora nas Riads, tendo chegado a haver quartos duplos com casa de banho privativa por menos de 30€/noite. E como a oferta era muita e havia alojamentos com tanto glamour, optamos por passar duas noites na Riad Kech Soul & Spa e duas noites na Riad Losra. Um pouco afastadas do centro, mas em bairros muito interessantes.
Gostamos das duas, mas gostamos bastante mais da segunda, essencialmente porque o quarto que nos atribuíram era melhor. A primeira tem um terraço no telhado muito bonito, mas é mais pequena e, por isso, os quartos quase sem luz natural. Na segunda o quarto era maior e melhor. Para além disso gostamos muito do bairro onde se situa a última Riad, que é muito residencial e local.
Comum às duas Riads, e às pessoas com quem nos fomos cruzando em Marrocos, há muita vontade de agradar e de servir bem. Sentimo-nos muito acarinhados.
Moeda
Uma dica que os Viagens Mais pra Lá nos deram antes de irmos, foi de levantarmos dinheiro apenas no Banco BMCI, porque não cobra taxas.
Muito agradecemos aos nossos amigos Ana e João por esta dica valiosíssima!
Internet
No aeroporto, à saída do avião, há umas lojinhas para a internet onde oferecem um cartão SIM e, para carregar com internet, o mínimo é de 10GB por 10€. O rácio é mais ou menos de 1€/GB e pode-se pagar em euros.
Tours que fizemos
Uma das coisas que mais gosto de fazer é de observar as pessoas e as dinâmicas familiares, principalmente quando se trata duma cultura tão diferente da nossa, por isso privilegiamos muito mais o contacto direto e a observação das pessoas locais do que os tours muito turísticos.
No entanto, encontramos duas tours que fizemos e gostamos muito!
Visita à cidade antiga de Marraquexe
Explorámos a cidade antiga de Marraquexe com um guia local, através da plataforma GuruWalk. Uma visita que durou mais de 4 horas e nos levou a sítios que não saberíamos ir sozinhos. Esta plataforma é muito interessante, porque publicita tours feitas por locais e funciona por donativo, pelo que cada turista poderá pagar em função do seu budget e da visita em si.
Tour ao deserto e montanhas do Atlas
Fomos ainda às montanhas do Atlas e ao deserto Agafay com dois guias locais, através da plataforma de experiências do Airbnb. Marcamos a tour na noite anterior, em promoção, e pagamos apenas 19€/pessoa por um tour de dia inteiro, numa carrinha pequena com apenas meia dúzia de turistas. Foi espetacular, porque como éramos poucos podíamos ficar mais ou menos tempo onde queríamos e inclusivamente permitiram-nos parar numa aldeia por onde estávamos a passar, que gostamos, e que não estava no roteiro. Também por sermos poucos foi possível fazer mil e uma perguntas sobre a cultura e religião muçulmana, sobre os berberes e uma parte da tour foi mesmo conduzida por um berbere das montanhas.
Fiquei espantada com as paisagens verdes que fomos encontrando ao longo do caminho. Neste lado das montanhas há mais água e mais verdura. Visitamos a aldeia berbere Imlil e a sua cascata e almoçamos num restaurante com vista para a montanha.
Depois de toda esta visita, o guia levou-nos ainda a uma zona do outro lado das montanhas, com uma paisagem muito diferente: muito árida. Nessa zona havia dromedários e estava incluído um passeio pelo deserto de areia. Quis ver as condições em que os animais viviam e aparentemente estavam muito bem cuidados, sem sinais de feridas ou de maus tratos, mas depois apercebi-me que no passeio eles vão todos em fila, com uma corda que tem muito pouca distância do animal da frente, que nem sequer lhes permite virarem a cabeça para trás. Claro que para ser seguro as pessoas sem experiência andarem nos animais, é preciso ter os animais mais controlados, mas questiono-me quantas horas por dia eles estão naquela posição, sem poderem mover muito a cabeça, a terem que se baixar e levantar de cada vez que há um freguês novo. Algum de nós escolheria aquela vida para si?
Por outro lado, no meio de tanta pobreza que vimos na cidade de Marraquexe e de como pessoas e animais são tratados em muitas situações, acabamos por relativizar as coisas. De facto, nesta cultura e no universo de coisas que vimos, estes animais estavam bem tratados. Mas não queria deixar de escrever sobre o Turismo Ético e Responsável e sobre este poder que cada um de nós tem no que escolhe consumir. Lembremo-nos de que cada escolha nossa do dia-a-dia está a construir o mundo onde queremos viver.
O saldo deste tour foi excelente! Foi mesmo um privilégio ter tido a oportunidade de passar um dia inteiro com dois guias locais tão dedicados e ver uma realidade tão diferente da cidade da Marraquexe, com mais espaço, pessoas mais tradicionais e mais verde.
Outros locais que visitamos
Praça Jeema El Fna
Adorámos o movimento desta praça, especialmente ao final do dia!
As pessoas juntam-se todos os dias aqui. Fazem música, artes, jogos populares, comem e bebem. Para nós que somos do Porto, isto é um São João todos os dias! 😁
Como em qualquer zona do mundo, sendo um local com muita gente e confusão é bom ir sem nada de importante ou valioso nos bolsos e nas carteiras. Desta forma pode-se parar nas rodas que fazem e apreciar as dinâmicas das pessoas e a cultura sem preocupações.
Nós adorámos apreciar este jogo, que consiste em tentar "pescar" a garrafa com uma cana de pesca e deita-la abaixo. Estivemos 30min a ver, mas ninguém conseguiu. É mesmo muito difícil!
Nesta praça e a esta hora do final do dia, fomos muito assediados para consumir nos restaurantes, às vezes duma forma mesmo invasiva. Só nos sentimos incomodados nesta praça, e são comportamentos de apenas alguns locais. Do que nos apercebemos esta realidade tem vindo a mudar, mas obviamente que em zonas muito turísticas somos sempre mais interpelados para comprarmos do que noutras zonas. Aqui o melhor é não passar muito junto aos restaurantes e responder que já comemos, por exemplo, e seguir sempre.
Outra questão a ter em atenção é que se tirarmos fotografias a alguma coisa que esteja a acontecer na praça vão-nos pedir dinheiro. Há macacos para se tirar fotografias, cobras, etc, e há sempre alguns locais cuja missão é andar a ver quem tira fotografias e pedir dinheiro. Se não queres contribuir para a continuação da exploração destes animais, o melhor é não pegares neles nem tirares fotos 😊
Diour Jdad
Adorámos o bairro Diour Jdad, que percorremos acidentalmente para chegar à Riad Losra. Gostamos essencialmente porque é um bairro muito local e residencial, onde as pessoas se vestem de forma muito tradicional e éramos os únicos turistas na zona.
Como sempre, aquilo que nos fica mais na memória é o que encontramos por nós próprios e de forma surpreendente!
Souks
Souks são os mercados mais tradicionais dentro das Medinas. Vendem um pouco de tudo: especiarias, artigos de couro, peças de cerâmica, prataria, ... São autênticos túneis de lojinhas, onde facilmente perdemos o norte. Andar aqui é uma experiência espetacular!
Cidade nova Marraquexe
Fizemos questão de ir visitar a parte nova da cidade, depois do motorista do nosso tour ao atlas nos ter dito que o sonho dele é um dia ir viver para lá com a sua família. (Às vezes eu faço estas perguntas às pessoas e fico a saber dumas coisas muito interessantes 😁)
A parte nova da cidade de Marraquexe é uma realidade completamente diferente da parte antiga! Muito mais moderna, com lojas multinacionais, este chão da praça (foto abaixo), vivendas com ótimo aspeto, carros de gama alta, mulheres com roupas mais claras e com lenços de seda, pessoas com comportamentos aparentemente menos tradicionais e mais parecidos com os nossos... Parece um outro país! Um mundo completamente diferente!Confesso que me chocou esta disparidade de realidades, caminhando apenas 15-30 minutos de um sítio para o outro...
Segurança
Sentimo-nos muito seguros a andar na rua, em todo o lado, mas claro, como em qualquer lado, é importante ter cuidado nas zonas turísticas e com muita gente, como a praça principal Jeema El Fna.
Outra regra é não aceitar ajuda quando tentarem adivinhar de que país vocês são, ou quando vos perguntarem para onde querem ir e quiserem levar-vos a algum lado. No final muito provavelmente vão pedir-vos dinheiro.
De resto, sentimo-nos sempre muito seguros. As pessoas são muito simpáticas e acolhedoras e parece-me que a religião tem realmente aqui um peso muito grande no condicionamento do comportamento das pessoas.
Alimentação
Nós comemos bastante bem e barato, à volta dos 8€ por pessoa, em média.
Destaco o La Cantine des Gazelles como uma alternativa com pratos mais ocidentais e o Gargot como alternativa de pratos mais locais como o Tajine. Foram-nos recomendados os bowls vegetarianos do Fine Mama, mas já não tivemos tempo de os experimentar.
Uma das coisas que fazemos sempre quando estamos em locais desconhecidos é ir ao Google Maps e pesquisar restaurantes com boa pontuação à nossa volta e tem funcionado bastante bem.
Cuidados a ter com a alimentação
Compro a água sempre engarrafada, ou fervida, ou filtrada. No entanto, hoje em dia, mesmo na comida de rua, já usam gelo com água filtrada para os sumos, especialmente em zonas turísticas, por isso é uma questão que está cada vez mais pacífica. Eu bebo sumos naturais na rua e nunca tive problemas, mas escolho fazer isso apenas em zonas turísticas.
Os maiores distúrbios intestinais que tive foram em hotéis e restaurantes para turistas. A comida de buffet está muito sujeita a contaminação, por isso não se fiem que lá porque é no hotel não vão ter problemas... O nosso segredo é comer sempre comida que está a ser feita na hora, ao lume, já que o fogo mata qualquer bichinho. E, para comer comida ao lume, nada melhor do que a comida de rua! Desde que comecei a comer comida de rua nunca mais tive problemas 😂 irónico, mas é verdade! Eu como em qualquer lanchonete de rua, desde que a comida esteja a ser feita na hora.
Religião e Costumes
Comecei a ter muita curiosidade sobre a religião Muçulmana a partir do momento em que pus, pela primeira vez, os pés num país muçulmano e dei de caras com pessoas totalmente diferentes da imagem que fazia delas, do que ouvia da televisão. Mais recentemente tenho vindo a descobrir muitas similaridades com a nossa cultura e o nosso passado.
Sei que é um tema sensível e que se calhar temos muito pouco conhecimento para falar dele, e por isso mesmo tenho o pequeno sonho de viver por uns meses numa família tradicional muçulmana, para perceber melhor esta cultura, que à primeira vista não me fez sentido nenhum, mas que aos poucos me mostra que em cada coisa que não entendemos existe algo importante que precisamos de apreender.
Viajar como mulher em países muçulmanos
Sendo um país muçulmano, penso que é bom ter atenção à roupa que se leva e à forma como nos comportamos, especialmente enquanto mulheres. Há mulheres ocidentais que até levam lenços para pôr na cabeça. A ideia é boa, mas pessoalmente eu sentir-me-ia a tentar ser alguém que não sou e não me sentiria confortável. Pelo menos é assim que me sinto hoje. Quem sabe no futuro posso sentir-me de outra forma. Estamos sempre a crescer e a desenvolver 😊
Os olhares são intensos e fazem-me sempre alguma confusão no início. Tenho vindo a aperceber-me que nestas culturas o olhar diz muita coisa e é uma linguagem que nós, ocidentais, sabemos muito pouco. Na ausência de outras partes do corpo à vista, os olhos acabam por ser o número um em termos de comunicação e sedução.Mas passado um ou dois dias habituo-me e isso deixa de me causar insegurança. Parece-me que a religião tem um papel bastante importante e exerce um controlo grande sobre a população neste tema também.
Como turistas, ninguém nos pede as mesmas "regras de conduta" que são "pedidas" às mulheres muçulmanas. Na verdade nós somos muito admiradas e podemos quase tudo mas, por respeito à cultura, pela minha vontade de me integrar e para evitar situações de assédio indesejado, faz-me sentido vestir-me e comportar-me da forma mais neutra que consigo.
Tentar perceber como e porque é que as coisas funcionam de determinada forma e tentar encaixar faz também parte da viagem e da experiência cultural, até porque só o facto de sermos estrangeiras já está, em si, a adulterar toda a experiência que temos com a cultura.
Mudanças no papel da mulher na sociedade
O Mundo está em mudança e as mulheres muçulmanas também.
Foi-nos dito que as mulheres têm ganho cada vez mais espaço no mundo do trabalho, especialmente nas áreas da educação e bancária, o que está a originar um pedido de "igualdade no acesso ao trabalho" por parte dos homens...
O acesso à internet tem desafiado muito as famílias mais conservadoras. Há uma liberalização cada vez maior dos costumes.
Honro cada conquista que elas têm vindo a fazer e abraço-as nesta luta pelos seus direitos, não esquecendo, ao mesmo tempo, o preço que a libertação e o "desenvolvimento" têm. Como sempre, não há mudança sem perda e dor. Cabe a cada um de nós ter o direito de decidir, em consciência, para onde quer evoluir.
Reflexão da viagem: o que mais e menos gostamos
O que mais gostamos foi deste voltar atrás no tempo. Ver as crianças a brincarem na rua, adultos que fazem jogos e convivem na rua, as famílias tradicionais, o comércio local a funcionar. As pessoas estão muito ativas, riem-se muito, socializam muito entre elas. Um país de "pessoas quentes" 😊
Gostamos muito também de ter tido a oportunidade de fazer a tour às montanhas e conhecer uma outra realidade. As pessoas comportam-se e vestem-se de forma muito diferente e dá-nos um panorama bem mais diversificado da cultura.
Gostamos muito de saber que o Cristiano Ronaldo é muito querido em Marraquexe. Pelo que nos disseram, ele tem lá casa e financia vários projetos para a comunidade.
O que menos gostamos foi do facto de não haver passeios em grande parte da cidade antiga, o barulho e a poluição, a pobreza a que assistimos. A pressão para comprarmos nas ruas incomodou nalguns casos, mas bem menos do que imaginávamos. Reparámos também que se usa muito o açúcar e produtos muito industrializados, mesmo nos pequenos almoços.
Por ser um destino turístico pensámos que já estaria muito corrompido pelo turismo e igual a tantos países que se visita por aí, mas não. Ainda vemos as pessoas e bens a serem transportados por animais. Grande parte das ruas da cidade antiga não tem passeios para os peões e as lojas têm um aspeto muito rudimentar.
Gostamos muito de "olhar para trás" saudosos, mas depois pensamos: a que custo? Qual o preço do desenvolvimento / não desenvolvimento? O que está por detrás destes olhares, que muitas vezes nos parecem tão puros, genuínos, infantis até, que já não vemos nos dias de hoje nos países ditos desenvolvidos? O que se perde? O que se ganha?
Vale a pena visitar?
Acho que vale muito a pena visitar Marraquexe pela experiência cultural. Uma realidade tão rica e tão diferente aqui tão perto de nós! É impressionante!E acho muito interessante levar as nossas crianças, para verem que existe um outro mundo muito diferente deste em que vivem aqui, a apenas 1h30 de avião. Dá que pensar...
Iremos, com certeza, voltar mais tarde para ficarmos um ou dois meses, talvez em Essaouira, que também ouvimos falar muito bem!
Quanto a nós, encontramo-nos na próxima viagem 😉
Beijinhos e abraços e sejam felizes!
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
novembro 10, 2021
Nomadismo Digital nas Universidades de Turismo
Sabias que já se fala de Nomadismo Digital nas Universidades de Turismo?
Fui convidada a falar sobre este novo mercado turístico e os seus impactos nas comunidades locais numa aula da Universidade Lusófona e foi muito gratificante poder contribuir com a minha experiência e visão no Turismo Responsável.
Hoje de manhã estive como oradora convidada numa aula da Universidade Lusófona, na cadeira de Sociologia e Antropologia do Turismo, a falar sobre o Nomadismo Digital como um novo mercado de turismo. Pediram-me para falar nas diferenças entre este tipo de viagem e a viagem de lazer mais convencional, e como interagir com pessoas na comunidade local pode trazer riqueza à nossa experiência e impactar as próprias comunidades locais.
Foi uma experiência significativa para mim, porque quando li o programa percebi que a professora da cadeira estava focada nas questões do Turismo Responsável e talvez por isso tenha chegado até a mim. Foi um privilégio e um sentimento de estar a cumprir a minha missão ao ter tido a oportunidade de falar sobre um dos temas que mais me apaixona e ter podido lançar mais umas linhas nesta rede que nos une a todos por um futuro melhor!
Fiquei muito feliz por saber que estes temas estão a ser trabalhados no ensino superior, não só do nomadismo digital duma forma geral, mas dos impactos nas comunidades que esta nova tendência já está a trazer. Estou muito grata por poder dar o meu contributo e partilhar a minha visão daquilo que tem sido a minha experiência.
Viver novas experiências e partilhar novos estilos de vida e alternativas que vou encontrando é a minha maior missão, porque o mundo é gigante e está cheio de oportunidades de crescimento! E quando comunico para uma palestra sinto-me como um peixinho na água, no meu elemento mais essencial! Sinto-me realmente a mudar o mundo e a sensação que eu tenho é que somos cada vez mais a querer um mundo melhor e a pensar no que cada um de nós pode fazer em relação a isso. Sinto que as pessoas saem inspiradas a serem melhores pessoas e isso é muito bom 🥰🥰🥰
Estou muito feliz! Sinto que estou a cumprir o meu propósito, a minha missão 🙏
Há tantas formas de se viver a vida, que não temos que viver daquela forma que nos foi incutida. Podemos e merecemos procurar a vida que cada um de nós deseja ter, a cada momento da nossa vida!
Beijinhos e abraços e sejam felizes!
Encontramo-nos na próxima história 😉
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
Overtrail.com
novembro 08, 2021
Escola Pública Ensino Alternativo nos Açores
Sabias que existe uma escola pública de ensino alternativo na ilha de São Miguel?
Na tour que fizemos à volta da sustentabilidade, fomos visitar a Escola Novas Rotas. Tivemos uma visita guiada pelas famílias da A Pequena Grande Casa e da Quinta do Bom Despacho , já que os seus filhos frequentam esta escola.
É uma escola sem turmas, sem aulas por disciplina e com uma organização escolar diferente do convencional.
Segue o currículo escolar nacional e todos os momentos de aprendizagem estão identificados com correspondência para o mesmo, mas o aluno é livre de investigar os tópicos de várias maneiras e de avançar nos mesmos ao seu ritmo, por isso naturalmente um aluno pode estar no 6° ano numa área de conhecimento e no 4° ano numa outra área.
Os professores são vistos mais como mentores e orientam no cumprimento dos componentes curriculares.
Os alunos têm assembleias e tomam decisões importantes na escola. São ainda responsáveis por estabelecerem as regras de convivência, bem como resolverem problemas ou situações de conflito.
Há quadros nas salas onde eles colocam o que querem aprender e quando.
Desde cedo são responsáveis por encontrar o seu método, plano e ritmo de estudo. Com certeza estarão mais bem preparados para trabalharem no futuro sem supervisão, ou nos seus próprios projetos, ou remotamente para outras empresas.
Resta dizer que dado ser uma escola pública, todo este sistema de ensino está homologado e é reconhecido, pelo que qualquer criança que saia desta escola tem um diploma igual a ter frequentado qualquer outra escola.
Este modelo assenta nos pressupostos da Educação Holística e inspira-se na Escola da Ponte, em Santo Tirso. Se ainda não conheces, podes contactá-los e agendar uma visita. Eu visitei as duas escolas e realmente abriu-me os horizontes e aguçou-me o espírito crítico!
"Be the change you want to see in the world!" 🙏🌼
Beijinhos e abraços e sejam felizes!
Encontramo-nos na próxima história 😉
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
Overtrail.com
novembro 06, 2021
Off Grid Tiny House nos Açores
Fomos visitar um casal que construiu a sua própria tiny house on wheels!Na tour que fizemos em São Miguel à volta da sustentabilidade, fomos visitar um casal com dois filhos, que construiu a sua própria tiny house on wheels, uma casa sobre rodas, completamente off grid, ou seja, sem ligação à rede de água, esgoto, ou eletricidade.
Eles abriram-nos as portas e mostraram-nos como tudo foi feito e como é possível viver desta forma.
Recolhem a água da chuva, que depois passa por um sistema de filtragem. A eletricidade é solar e a casa de banho é de compostagem húmida. Até hoje eu só conhecia as casas de banho secas (parecidas com o antigo buraco no chão nas aldeias), que funcionam por um processo de compostagem seco. Mas este processo é diferente, a sanita é normal, funciona com água, mas depois utiliza a compostagem com vermes, que posteriormente é utilizada para a fertilização da terra.
Um ciclo, no qual se aproveita todos os recursos, sem desperdício.
Já viste ou utilizaste uma casa de banho seca? E de compostagem húmida?
E sabem duma coisa engraçada?
Foi por termos visto a reportagem inspiradora deste casal na TV no ano passado, que se proporcionou fazermos a reportagem com a RTP este ano: Geração Nómada RTP, no Linha da Frente.
Quem quiser seguir esta família, pode fazê-lo através da página de Instagram A Pequena Grande Casa.
Que coincidência e privilégio virmos dar com eles na nossa viagem aos Açores... 🙏
Beijinhos e abraços e sejam felizes!
Encontramo-nos na próxima história 😉
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
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novembro 04, 2021
Quanto custa viver numa autocaravana?
Então e ser Nómada Digital é uma estilo de vida caro? Quanto custa viver numa autocaravana? 🤔
Depende das necessidades e escolhas de cada um. Eu diria que há para todos os gostos!
Nós os dois, a vivermos na nossa autocaravana, gastamos entre 400€ a 450€/mês. Estou a incluir despesas com gasóleo, seguro, manutenção e inspeção da carrinha, supermercado, gás, telecomunicações, restauração, lazer e responsabilidade social (donativos a projetos).
Claro que se alugarmos apartamento em vez de estarmos na autocaravana, o custo aumenta. Por isso mesmo é que muitas vezes tomamos conta de casas e animais em regime de House & Pet Sitting 🏠🐾
Mas uma das vantagens de se poder trabalhar pela internet é poder optar por se viver em locais do mundo onde a vida é mais barata e, claro, onde faz mais sol em cada época do ano 😎
Se ainda tens dúvidas sobre o que é exatamente um nómada digital, convido-te a espreitares o meu artigo Ser Nómada Digital é uma Profissão?
O que te parece este valor, para os teus padrões de referência?
Caro? Barato? Ajustado?
Beijinhos e abraços e sejam felizes!
Encontramo-nos na próxima história 😉
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
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novembro 01, 2021
A minha Experiência com Aqua Sound Healing, nos Açores
Experimentamos Aqua Sound Healing e adorámos!
Eu já tinha assistido a concertos de sound healing, com taças tibetanas, e tinha adorado. Sempre que ouço os sons das taças tibetanas fico tão relaxada que "passo pelas brasas", e na água não foi diferente!
O Aqua Sound Healing refere-se à cura através do som. Foi a vez então de experimentar esta terapia dentro das águas termais da Ferraria, na Ilha de São Miguel, Açores.
Começamos por fazer vários exercícios dentro de água. Um de nós flutuava e o outro cuidava de nós. Transportava-nos para outras áreas da piscina, evitando que batessemos nas margens, mexia nos nossos braços e pés, massajava-nos, rodava-nos, etc. Super relaxante!
No final fizemos um exercício em grupo e entrelaçamos todos as pernas uns nos outros, flutuando em círculo. O terapeuta colocou uma taça tibetana em cima de cada um de nós e deu um concerto com as taças.
Adormeci a flutuar na água 🥰
Acho que o exercício mais poderoso foi quando o nosso parceiro nos rodou, encolheu e pegou em nós como se fôssemos bebés, mas dentro de água. Senti-me no ventre da mãe!
E porque temos os ouvidos sempre debaixo de água só ouvimos o silêncio e sentimos as vibrações na água.
Quando penso na sensação de paz e de segurança é exatamente este o som e o ambiente que me vem à cabeça.
Achei uma excelente terapia para trabalhar a harmonia, a confiança e a conexão numa relação de casal ou mesmo de grupo 🙏
Para quem quiser saber mais, esta experiência foi feita pelo Nuno da Almond3 therapies.
Beijinhos e abraços e sejam felizes!
Encontramo-nos na próxima história 😉
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
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outubro 09, 2021
O meu Caminho de Santiago a Finisterra
Mais uma partida, mais um recomeço, mais um troço dos Caminhos de Santiago 🚶
Desta vez com a minha querida amiga Sara dos No Footprint Nomads.
Depois de ter feito o Caminho Português da Costa há cerca de um mês, venho completar a rota até ao fim do mundo, Finisterra. Começámos em Santiago de Compostela e seguimos o "curso do sol até aos confins da terra", Finisterra, conhecido como o fim do mundo, um lugar onde se acreditava que as almas ascendiam ao céu.
Bora lá para mais uma aventura e mais uns kms nos pés 👣👣
Sabe mais sobre a minha experiência pelo caminho português, bem como dicas para a tua preparação para o Caminho de Santiago, em O meu Caminho a Santiago de Compostela.
Diário de bordo:
Dia 1 - Santiago a Negreira (24 km)
Fomos de bus até Santiago de Compostela e antes de começar a caminhar fomos diretas ao Bar La Tita, comer a melhor tortilha de Santiago 😋
Não sou especialista em tortilhas, mas acho que o segredo está no ovo. Estava divinal!
Os meus roteiros têm sempre uma componente gastronómica, já que comer é uma das maravilhas da vida 😋😅
Levo o meu googlemaps aberto e próximo da hora do almoço vou pesquisar as tasquinhas com melhor pontuação e ver também que restaurantes fazem menu do peregrino. Aproveito e faço uma paragem maior ao almoço.
Ao jantar como algo leve tipo sandes, que compro no supermercado, porque deitamo-nos cedo e não vale a pena encher o bandulho para ir dormir a seguir. Este é um dos pequenos hábitos que tenho que acho que me ajuda a dormir melhor e a não engordar.
Começamos então a primeira etapa em Santiago. Caminhamos cerca de 24km até Negreira.
Foi uma etapa com uma mistura de estrada de cimento e floresta, com algumas subidas.
Passamos por vilas muito bonitas, com casinhas em pedra, mas sem dúvida que a mais bonita de todas foi Ponte Maceira, com uma ponte antiga, capela, brasões e casas recuperadas a rigor. Esta vila é considerada como uma das mais bonitas de Espanha. Não sei se conhecem, mas existe uma associação com site chamada "los pueblos mas bonitos de espana" que destaca as vilas espanholas mais bonitas, segundo um conjunto de critérios que é revisto frequentemente. Vale muito a pena espreitar e fazer uma rota passando por estes pontos, porque são vilas lindíssimas!
Como começamos a caminhar só de tarde, já chegamos ao albergue ao final do dia. Por azar era feriado em Negreira, por isso não havia supermercados abertos e apenas alguns cafés e restaurantes. Comemos uma refeição leve e fomos para o albergue fazer a nossa rotina diária de chegada: tomar banho, lavar a roupa e fazer uma massagem aos pés.
Caminhamos durante o dia para sentirmos o privilégio que é ter um banho de água quente e fazer uma massagem aos pés. Depois de um dia de caminhada sabe tudo às mil maravilhas!
O tempo esteve maravilhoso e seguimos juntos para o segundo dia 😊👌
Dia 2 - Negreira a Lago (29,47km)
Começamos a caminhada tarde, porque queríamos ir ao supermercado logo de manhã e só abria às 9h30. Tomamos o pequeno almoço e marchamos.
O segundo dia foi bem mais puxado, com quase 30km de caminhada e cerca de 400m de desnível, mas muito bonito, especialmente os primeiros 10km. Muita natureza e monte e muita inspiração!
Eu e a Sara tivemos um grande momento de inspiração juntas, um insight que nos ajudou imenso a integrar várias peças da nossa vida que pareciam estar soltas e ali, no meio daquela natureza, fez-se luz e clarividência nos nossos caminhos da vida.
Abraçamo-nos, rimo-nos muito e filmamos o nosso insight, para não nos esquecermos do que descobrimos juntas.
Atrás de nós vinham duas peregrinas mais velhas, espanholas, da Corunha, e explicamos-lhes o que tinha acontecido. Elas responderam: "é disto que se trata o Caminho". Eu estava numa grande inspiração e foi o momento mais alto do meu dia 🥰
No primeiro dia conhecemos umas alemãs que estão a fazer o Caminho desde França e vão com mais de um mês a caminhar e à volta de 800km nas solas. Isto sim, é desafio! Uma delas é a primeira vez que está a fazer o Caminho. Grande estreia, hã?
No segundo dia conhecemos um italiano muito simpático, que veio do Caminho Primitivo e disse maravilhas! Acho que vai ser o meu próximo Caminho 😉
Mais para o final da nossa rota a paisagem mudou e ficou muito, mas muito rural, com imensas vacarias pequenas, umas placas antigas de albergues e do Caminho para Finisterra e pareceu que estávamos mesmo a caminhar para o fim do mundo. Místico!
Depois duma grande última subida no meio do monte, começamos a descer e encontramos o nosso albergue, mesmo junto a mais uma vacaria.
No segundo dia andei com as botas de montanha em vez das sapatilhas, porque esperava montanha e desnível, mas afinal não senti que fossem uma mais valia. Acho que vou voltar às sapatilhas, que apesar de serem foleiras são mais leves e flexíveis 😊
Dia 3 - Lago a Cee (26,28km) 👣
Apesar de normalmente o 3°dia ser o meu pior dia, desta vez foi um dia com várias surpresas e muita esperança.
O nosso albergue em Monte Aro era um edifício em pedra recuperado muito bonito, mesmo junto a uma vacaria. Como tinha cozinha, fizemos uma aveia improvisada com banana, chocolate preto e caju. Ficou top!
E começamos a caminhar bem cedinho.
O caminho passou por algumas aldeias, mas foi sobretudo pelo monte. Como sabíamos que os últimos 15km desta etapa iam ser só monte, sem serviços nem nada para comer, optamos por almoçar em Logoso, onde encontrei, por coincidência, uma pessoa que nos segue nas redes sociais por causa do autocaravanismo e que estava a fazer o Caminho na mesma altura que nós. Uma feliz coincidência, que nos permitiu conhecer-nos pessoalmente 🥰
Depois do almoço seguimos viagem sempre com muita natureza, e foi quando tivemos outra surpresa. Primeiro uma paisagem lindíssima com as montanhas e o rio e depois, quando olho para baixo, um pequeno santuário a homenagear pessoas que partiram. Nem por acaso era o aniversário de falecimento da minha mãe. Foi um momento muito bom ter ali aquele pequeno templo e poder participar dessa homenagem também com algo meu.
É um pouco também por isto que o Caminho é tão especial! É a sensação de que estamos juntos e conectados. O Caminho conecta-nos, mesmo com quem não conhecemos. Não se trata só da solidariedade entre as pessoas, mas é mais do que isso. É esta magia de que fazemos parte de algo muito maior do que nós!
A meio da tarde chegamos a um novo albergue, em Cee, já a menos de 15km do nosso destino, Finisterra.
Neste albergue temos um quarto só para nós, que maravilha! Sem termos que o dividir com mais 10 ou 15 pessoas, com uma cama "a sério" em vez do beliche, lençóis, uma varanda, roupeiro e com vista de mar. Um pequeno luxo para um peregrino!
Tomamos uma banhoca e fomos ao supermercado tratar de comprar material para o nosso jantar. Encontramos no supermercado uma empada vegana, com cogumelos, espinafres e pimentos que estava muito boa e trouxemos para comer no albergue.
Bem comidas e bem dormidas. Estávamos no paraíso!
Seguimos Caminho para o fim do mundo 👣🌸🦋
Dia 4 - Cee a Finisterra (20,53km) 👣 FIM
Começamos o dia em Cee, uma cidade costeira engraçada e fomos seguindo caminho pela costa.
Passamos por pequenas cidades e vilas costeiras engraçadas, com um misto de pedra, montanha e mar. Vimos, inclusivamente, espigueiros em pedra. Uma mescla muito interessante!
Este foi, sem sombra de dúvida, o Caminho mais bonito dos 3 Caminhos que já fiz (Inglês, Português da Costa e Finisterra).
E o tempo foi mesmo de encomenda para nós!
A uns 10km da chegada ao Cabo de Finisterra começamos a ver muitos peregrinos a caminharem. É engraçado como o estilo de peregrinos que encontramos neste Caminho foi muito diferente do que encontrei no Caminho Português da Costa, em Agosto. Em Agosto eram sobretudo estudantes e o ambiente às vezes era mais de fiesta em alguns albergues. Neste Caminho vimos pessoas mais da nossa idade e mais velhas, e senti um espírito mais de missão à nossa volta.
Como o meu foco é muito no desenvolvimento pessoal e não propriamente na religião, para mim, terminar o Caminho de Santiago em Finisterra foi mais impactante do que terminar em Santiago de Compostela. Terminar num cabo, no chamado fim do mundo e na costa da morte, tem uma simbologia enorme!
E mais do que chegar ao km 0, foi chegar àquele cenário, depois de toda esta viagem e ter ali uma oportunidade para parar e olhar para o horizonte naquele ambiente de infinitude e de paz. É como se tivéssemos realmente ido até ao fim do mundo e estivéssemos agora preparados para elevar a nossa alma aos céus, como diz a história.
Uma parte de mim senti-o pouco merecido, porque desta vez não sofri de todo. Não tive uma única bolha nos pés, nem me senti cansada. Apenas os pés doridos no final do 2°dia.
Também fizemos menos quilómetros desta vez. Quisemos ter tempo e energia para desfrutar dos lugares por onde íamos passando.
A conversa com a Sara também foi muito boa, com muitos insights e muita partilha e isso naturalmente também ajudou a que fizesse o Caminho sem grande esforço.
Não me interpretem mal, não gosto de penitências, mas a verdade é que passar mal pode trazer muita oportunidade de crescimento.
No entanto, nem toda a autossuperaçao é física. Há que ascender nas nossas ambições e sermos capazes também de nos desenvolvermos e autossuperarmos de outras formas. Inspirei-me ao longo do Caminho em caminhantes mais velhos e percebi que eles caminham mais devagar, mas com mais intenção e presença. E é interessante também esta forma de caminhar que, no fundo, é uma forma de viver a vida. Mais madura, talvez.
De facto o Caminho é muito único e é exatamente do tamanho daquilo que estamos prontos para lhe dar!
#caminofinisterra #caminhodesantiago #caminhodesantiagodecompostela #caminodesantiago
#viagenscomproposito #viagemcomproposito #desenvolvimentopessoal #autossuperacao
Beijinhos e abraços e sejam felizes!
Encontramo-nos na próxima história de desenvolvimento pessoal 😉
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
outubro 07, 2021
Aldeia abandonada a 40km de Lisboa
Olá, bem-vindos!
A 40km de Lisboa fica a aldeia de Broas, uma aldeia abandonada há mais de 40 anos. Fomos visitá-la!
Como a aldeia não tem acesso de carro, tivemos que estacionar em Almorquim, a aldeia mais próxima, e caminhámos cerca de 25min por uma estrada de terra batida, com umas vistas muito bonitas!
A aldeia é pequena e está em ruínas, o que lhe dá um certo glamour.
Encontrámos uma grande árvore, com bancos de pedra, que nos pareceu ser o centro da aldeia. E sentámo-nos ali, naquele grande freixo, a ouvir a D. Maria das Dores contar como era a vida naquela aldeia. Esta senhora nasceu na aldeia de Broas, foi uma das últimas habitantes e foi, por isso mesmo, entrevistada pela TSF. Trouxemos o audio no telemóvel e ouvimo-la a contar a sua história, mesmo debaixo do freixo, que tanto falavam no audio.
Não sei se já tinhas feito isto? Ouvir alguém contar uma história, precisamente no lugar onde a ouves.
Aconselho a fazeres, porque é mágico! Senta-te lá e ouve a D. Maria das Dores em https://www.tsf.pt/sociedade/aldeias-abandonadas-as-portas-de-lisboa-10440198.html
A desertificação e o abandono das aldeias é um tema que me toca muito. Fracos acessos, agricultura pouco rentável e inexistência de qualquer serviço ou comércio têm sido algumas das razões pelas quais as pessoas abandonam as suas aldeias.
Fico sempre a imaginar como seria a vida naqueles tempos e como poderíamos voltar a ter vida naqueles lugares!
O turismo tem sido uma saída, mas era bom que mais do que um "parque de diversões", ou um lugar de "consumo passivo", que fosse um lugar mesmo com vida, onde se recriasse a época histórica, conforme defende um arqueólogo de Trás os Montes, evitando que os lugares se transformem em "simples vestígios arqueológicos"...
Tenho pensado muito no conceito de "turismo de consumo passivo". Não sei se existe este termo ou não mas, tal como nos outros tipos de consumo, o turismo também pode ser vivenciado de várias formas. Umas mais participativas e outras menos. Umas que promovem realmente a vida local, outras que promovem a destruição do património cultural e o ambiente. Tudo depende da forma como a consumimos.
Assiste ao vídeo que fiz da Aldeia de Broas:
Se gostas de aldeias abandonadas, aconselho-te a assistires o vídeo que fiz da aldeia de Safira, uma outra aldeia abandonada que gostei muito de visitar! Aos meus olhos mais mágica ainda, porque tem uma igreja antiga e porque não se vê nenhuma casa à volta. Parece que estamos num mundo encantado...
Beijinhos e abraços e encontramo-nos na próxima história!
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
outubro 04, 2021
Um casal e uma autocaravana, Umundu Lx
Olá, bem-vindos!
No passado domingo dia 3 de Outubro, fomos dar duas palestras com o título "Um casal e uma autocaravana, rumo a um novo paradigma" 👫🌎🚐
Houve uma sessão de manhã e outra sessão à tarde, incorporadas no Festival Umundu Lx.
Apresentação do Festival Umundu Lx
Este festival é gratuito e contou com cerca de 90 eventos ligados à sustentabilidade, ao consumo e vida mais conscientes.
Começou como uma iniciativa de cidadãos que sentiram a necessidade de criar uma plataforma de encontro, troca de ideias e de visões para uma sociedade mais sustentável, mais cuidadora e regeneradora dos ecossistemas planetários dos quais dependemos. Este festival é então dedicado à reflexão sobre o nosso impacto na Terra e a importância de encontrar soluções para a transformação sustentável do modo de vida de cada pessoa e da sociedade no seu todo.
Houve palestras, projeção de filmes, oficinas, visitas guiadas, exposições e atividades culturais.
A ideia é juntos remarmos para um paradigma mais sustentável 🌱
Programa do Festival Umundu Lx
O programa da 2ª edição do Festival Umundu Lx focou-se em 4 temas:
1. OUT: Afinal, o que é sustentabilidade?
2. OUT: Restauração de Ecossistemas
3. OUT: DIY - Do It Yourself (Faz tu mesmo)
4. OUT: Justiça social e ambiental
A nossa palestra e visita guiada
O domingo foi dedicado ao tema "Do It Yourself - Faz tu mesmo!" e o objetivo era motivar os participantes a tomarem iniciativa para encontrarem soluções e alternativas. Neste sentido, fomos partilhar a nossa história e como foi o processo de decidir criar as nossas próprias soluções e estilo de vida. Apesar de vivermos numa autocaravana, continuamos a ter um estilo de vida que consideramos saudável e a fazermos o nosso próprio pão, iogurte, desodorizante, etc. Na fotografia abaixo podem ver a iogurteira da YogurtNest que usamos para nos ajudar na confeção do iogurte e para levedar a massa do pão.
Aproveitámos a fazer uma visita guiada à nossa autocaravana e a responder a tantas questões que sempre nos colocam relativamente a este estilo de vida.
Comentários
Recebi comentários maravilhosos, como este:
"Olá querida Raquel, uma delícia conhecer-te! Apreciei muito a tua honestidade, e a liberdade com que falaste de coisas íntimas, como a vossa relação e como procuram soluções, sem pruridos desnecessários, e ao mesmo tempo, deram esperança realista a todos os que queriam saber como funciona afinal este modo de vida tão romântico sem deixar de ser exequível. Muito generoso da vossa parte!"
Pessoas que vieram à nossa palestra e que finalmente conhecemos pessoalmente
Neste evento tive o privilégio de finalmente conhecer pessoalmente a Sónia Justo, do blogue de viagens Lovely Lisbonner, que há tempos me fez uma entrevista online sobre a minha história de vida. Podes assistir a esse vídeo em "A tua vida cabe numa autocaravana? | Raquel Ribeiro & Sónia Justo | À Tona Episódio 3"
Conheci ainda uma pessoa que nos segue e que vê e comenta todas as nossas publicações sempre com muito entusiasmo. É mesmo um verdadeiro prazer poder conhecer de carne e osso pessoas tão próximas de nós, que viajam connosco cada passo da nossa vida!
Mais vídeos e informação
Caso queiras visitar virtualmente a nossa carrinha convertida em autocaravana, ou saber mais sobre a minha mudança de vida, podes assistir aos meus vídeos em:
Beijinhos e encontramo-nos na próxima história de viagens 😉
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter
Overtrail.com
agosto 21, 2021
O meu Caminho a Santiago de Compostela
Passados 7 ou 8 anos venho fazer novamente o Caminho de Santiago a pé 🚶
Da outra vez fiz o Caminho Inglês com um grupo de voluntariado. Este ano faço o Caminho Português da Costa, com mais 3 amigos.
A rota tem 271 km, desde o Porto até Santiago de Compostela, dividido em 13 etapas, mas eu comecei em Marinhas (Esposende), porque tomei a segunda vacina do covid e fiz febre. Tive que entrar para a caminhada 2 dias mais tarde. Assim sendo, o meu objetivo foi fazer 210km em 8 dias, o que dá uma média de 26km por dia, fora os desvios...
Neste artigo vou partilhar:
- A rota que fizemos
- Links úteis para a preparação do Caminho de Santiago
- A minha check-list: O que levar na mochila
- Partilha em formato de vídeo: para se quiseres ver algumas imagens e se quiseres saber um pouco mais sobre os Caminhos de Santiago e sobre como te podes preparar para este desafio.
- A minha reflexão depois de chegar a casa
- O meu diário de bordo, com os vários pensamentos que me foram ocorrendo dia-a-dia
- Agradecimentos e convite
A nossa rota
Dia 1 - Marinhas a Viana do Castelo (21,123km)
Dia 2 - Viana do Castelo a Caminha (30,543km)
Dia 3 - Caminha a Porto de Mougás (27,9km)
Dia 4 - Porto de Mougás a Baiona (17,97km)
Dia 5 - Vigo a Arcade (27,77km)
Dia 6 - Arcade a Tivo (38,08km)
Dia 7 - Tivo a Padrón (21,6km)
Dia 8 - Padrón a Santiago de Compostela (25km)
Links úteis para a preparação
https://www.caminodesantiago.gal/pt/inicio
Onde comprar credencial do peregrino
Cartão europeu de seguro de doença
Se estiveres à procura de inspiração, recomendo o livro da minha querida amiga Luísa: Um Caminho para Todos - Diário de uma Peregrina no Caminho de Santiago
A minha check-list: O que levar na mochila
Partilho a lista de coisas que normalmente levo para o Caminho de Santiago:
- Mochila de 40 litros, com capa impermeável
- 2 t-shirts compridas, fáceis de lavar à mão e rápidas de secar ao ar
- roupa interior: cuecas, soutien, etc (de preferência sem costuras)
- meias coolmax (25€ 2 pares na Decathlon) - trocar de meias 2 em 2 horas, se for preciso
- calças de caminhada e umas calças largas limpas para depois de tomar banho
- 1 t-shirt de manga comprida para dormir
- 1 camisola
- 1 casaco impermeável, corta-vento e com carapuço
- chapéu com abas para proteger também a cara
- botas ou sapatilhas de trekking, chinelos de banho e para sair ao final do dia
- saco-cama e/ou lençol saco-cama ou lençol de capa edredom (normalmente os albergues têm cobertor)
- toalha de banho micro fibra
- necessaire: escova e pasta dos dentes, pente para cabelo, desodorizante, sabonete, champô em doseador pequeno de viagem, creme para cara e pés
- lenços de papel ou toalhetes
- protetor solar em doseador pequeno de viagem
- sabão da roupa, 4 molas (para prender por fora na mochila e fazer de estendal 😊)
- material covid: 2 máscaras laváveis, gel desinfetante, testes auto-diagnóstico covid
- medicamentos: pomada anti-inflamatória, 1 benuron, 1 brufen, bépanthene, vaselina para pôr à noite nos pés, pó de talco para pôr de manhã. Para as bolhas nos pés: Epitact (almofadas) com gaze, ou os pensos para bolhas da compeed, tesoura
- documentos: cartão do cidadão, cartao europeu seguro de doença, credencial do peregrino, dinheiro
- cadeado para os cacifos
- oculos de sol sem caixa
- 2 sacos de plástico com e sem asas (para a roupa suja, lixo, compras, etc)
- telemóvel, auriculares, carregador, powerbank
- 3 talheres de sobremesa (colher, faca e garfo)
- frutos secos, bolachas, água
- vieira
NOTA IMPORTANTE: Coloco tudo na mochila em vários sacos de plástico. Caso chova a roupa já não se molha.
Partilha em formato de vídeo
A minha reflexão após chegar a casa
Há dias estávamos a comentar que fazer o Caminho de Santiago sem mochilas é muito mais fácil. São menos 7kg ou 10kg em cima do corpo, que fazem muita diferença. E eu pus-me a pensar como todo o Caminho e as dificuldades que nos aparecem são mesmo idênticas às da nossa vida.
Há pessoas que carregam fardos enormes, outras nem tanto. Parece que para umas pessoas é muito fácil conseguir determinadas coisas. Outras têm que fazer tanto esforço para lá chegarem e, ainda assim, não é suficiente para alcançarem. Pensamos que a vida é injusta, porque não começamos pelos mesmos pontos de partida, com as mesmas condições.
É verdade, mas uma grande parte do peso que levamos na nossa "mochila" é aquilo que escolhemos carregar, mesmo que de forma inconsciente. Se eu sou uma pessoa com muitos receios e preocupada com o futuro, vou tender a levar muita coisa na minha mochila, porque acho que posso vir a precisar. Se sou mais relaxada e mais desprendida, vou com muito menos coisas.
Se eu acho que não sou boa o suficiente e que não vou conseguir, vou carregar um peso extra.
Todo esse peso que carrego vai, inevitavelmente, influenciar o meu Caminho.
Enquanto esperei 2h30 pelo certificado de Compostela percebi que o único "canudo" que nos serve na vida é mesmo o da aprendizagem que fazemos pelo Caminho. E esse é do tamanho daquilo que estamos dispostos a dar de nós ao Caminho, seja ele de 20km, 200km ou de 2000km.
A aprendizagem não é do tamanho do que conseguimos fazer, de todo! Tem muito mais a ver com a forma como o fazemos do que aquilo que fazemos.
Só quando percebermos isso é que vamos perceber que aquilo que ganhamos não foram 200km de desgaste nas solas dos nossos sapatos, mas sim o que nos disponibilizamos vir aprender com esta experiência.
Isto é o que faz sermos únicos e essa aprendizagem jamais nos pode ser roubada, copiada, ou alcançada pelos mesmos quilómetros de Caminho.
Cada Caminho é único 🌸
#caminhoportugues #caminhodesantiago #caminhoportuguesdacosta #caminhodesantiagodecompostela #viagenscomproposito #viagemcomproposito #desenvolvimentopessoal
Diário de bordo:
Dia 1 - Marinhas a Viana do Castelo (21,123km)
Bem, 26km a pé até se faz mais ou menos bem, mas a carregar 10kg de mochila é obra! Nunca aprendo 🤦 Trouxe muito mais do que precisava, mas no final do primeiro dia libertei perto de 3kg de coisas! Prefiro que eventualmente faça falta do que carregar tudo para uma eventualidade...Dia 2 - Viana do Castelo a Caminha (30,543km)
Como sempre, no início a folia era imensa! Parecíamos novamente adolescentes a dormirmos no albergue. Na primeira noite tivemos que pôr uma meditação, porque ninguém dormia. Eram piadas e mais piadas, risota pegada e o sono não chegava.
Dois dias de caminhada depois, cremes anti-inflamatórios e umas bolhitas, a malta já se deita e aterra, desde que as dores o permitam 😬
E quando comemos? Sabe tão bem! E a água a bater no corpo no duche, no final do dia? Que maravilha!
E pôr os pés nuns chinelos? Ei, isso é que é como andar nas nuvens!
Não há nada como passar mal, para valorizar o pouco que se tem... 😊
Dia 3 - Caminha a Porto de Mougás (27,9km)
É o meu 3°dia (4° e 5° dia para os meus companheiros) e o ponto de viragem. Ou vai ou racha.
O Caminho é mesmo um retrato da vida. Passamos por muita alegria, música, gargalhadas de acordar o pessoal nas casas, mas também desespero, choro, sensação de chegarmos ao nosso limite. E é aí, precisamente aí que acontece a magia (ou então que fazemos uma mazela a sério 🤕😉). É mesmo assim, temos que confiar no nosso corpo, que é sábio, e saber quando é o momento de parar.
Uns vão, outros vêem. O que é certo é que nada é certo. Hoje caminhamos com alguém. Amanhã podemos já não estar a caminhar com aquela pessoa. Ou podemos já nem conseguir caminhar. É isso, não controlamos. O caminho é duro. Ensina-nos que não temos quereres e que o melhor é mesmo aceitarmos e aceitarmos com gratidão, para o nosso bem.
O caminho mostra-nos que temos que vergar, principalmente naqueles momentos em que nos apetece partir tudo à nossa frente. Principalmente nesses momentos.
Mostra-nos que hoje o nosso companheiro precisa de ajuda, amanhã somos nós e mostra-nos com muita convicção! Estamos no limite, num limite que desconhecíamos sobre nós próprios. E, sobretudo, um limite emocional, permanentemente.
Que lição é este Caminho!
Estamos juntos, equipa maravilha 💪😊💗
Dia 4 - Porto de Mougás a Baiona (17,97km)
Dia das queixinhas 😁
O 4°dia foi o dia de tratar de nós e fazer uma "pausa". Uma pausa, ainda assim, de 18km de caminhada 😊
Tive uma bolha no pé esquerdo (dou graças por ter só uma! Da outra vez fiz 5 bolhas ao final de 3 dias de Caminho de Santiago!), tenho os dedos mindinhos pisados e uma dor no tendão do pé direito ao caminhar (provavelmente do esforço para compensar o impacto na bolha do pé esquerdo).
A dor é suportável, mas passei pelo centro de saúde só para saber se poderia estar a fazer algum dano mais permanente ao continuar. Como para já não é grave, vou continuar. Ponho vaselina (para evitar bolhas) e creme anti-inflamatório 2x ao dia e tem funcionado.
No Caminho vivemos mesmo um dia de cada vez.
Então o 4°dia, que era um dia de aproximadamente 40km de caminhada, porque os alojamentos estão cheios e só encontramos dormida mesmo em Vigo, optamos por fazer o Caminho a pé até Baiona e de lá apanhar um bus até Vigo.
Pensamos várias vezes no que fazer. Para nós era importante fazer o caminho todo a pé, mas estaríamos a fazer numa só etapa aquilo que é recomendado fazer em duas etapas e, dadas as circunstâncias, tivemos receio que se o fizessemos nestas condições que fosse o nosso último dia de Caminho e viessemos recambiados para casa 🤕
Por isso fizemos uma parte a pé e a outra de autocarro, para no dia seguinte estarmos aí on fire para continuar o Caminho e com o pé mais restabelecido.
Dica para quem quiser fazer o Caminho é não marcar as dormidas previamente e ir marcando à medida que se vai avançando no Caminho.
Caso se vá fazer em Agosto, e especialmente se a rota for numa zona turística e de costa, como é o caso, pode-se correr o risco de não haver lugar para dormir (especialmente agora que os albergues só podem funcionar com 1/3 da capacidade por causa do covid). Nesse caso pode ser bom reservar as noites previamente, mas no planeamento eu diria que é preciso ter em conta que mais do que 20-25km por dia a pé com as mochilas é bastante puxado para quem não está habituado e que é importante haver alguns dias pelo meio em que se caminha menos, para o corpo se restabelecer.
A ideia não é vir dar um passeio como se fosse ali ao cinema, mas também não é matarmo-nos no caminho ou fazermos lesões que nos tragam repercussões no futuro. O ideal é que o façamos com esforço, mas também com saúde, desfrutando das paisagens e das pessoas especiais que vamos encontrando pelo Caminho.
Seguimos juntos! 😊🚶🙏
Dia 5 - Vigo a Arcade (27,77km)
Acordei a sentir o corpo a pedir para caminhar (os pés é que não, coitados! 😂)
E pensei, ei pá, já fiz metade do Caminho! E começo, animada, em contagem decrescente ☺️
O Caminho de Vigo a Arcade tem algumas subidas e descidas, mas passa muito tempo por uma floresta, com muita sombra e o piso bom para caminhar. Foi um dia fácil.
O corpo também começa a habituar-se ao ritmo e já pede para saltar da cama de madrugada e meter-se à estrada. Só os pés é que ainda não se adaptaram e ainda dão que fazer.
Já so faltam 80km para chegarmos a Santiago de Compostela e começo a acreditar que vamos mesmo chegar ao destino a pé 💪😁
Seguimos juntos! 😊🚶
Dia 6 - Arcade a Tivo (38,08km)
Total percorrido🚶163,38km
Minha Nossa, o meu record a caminhar: 38km 😳
Acho que nunca caminhei tanto quanto ontem! Cheguei ao albergue e pedi uma bacia com água e sal e fui para a cama.
Chegamos a Pontevedra às 11h, com menos de 15km feitos, e depois disso não íamos ter restaurante tão cedo. Era domingo e praticamente tudo fechado. Perguntamos na rua e diziam que só abriam às 12h. Fomos caminhando até ao fim da cidade e ainda não era meio dia. Perguntamos a um senhor na rua que nos falou de um restaurante perto que estaria aberto. Fomos lá e os almoços só eram servidos a partir das 13h. Pensamos em vir embora, porque ainda nos faltavam 25km de caminhada. Nisto a senhora disse para nos sentarmos que ela ia ver o que podia fazer. Serviu-nos umas brutas doses de comida às 12h. Como era muito, guardamos parte para o jantar 🙂
Na rua as pessoas sorriem-nos e cumprimentam-nos, oferecem-nos ajuda se nos sentamos na rua a olhar para os nossos pés.
Somos olhados com carinho e isso sabe mesmo bem, especialmente quando nos sentimos exaustos.
Estas são as maravilhas da vulnerabilidade.
Cada vez mais me convenço de que o ser humano naturalmente gosta de ajudar e de cuidar. Quando isso não acontece algo está fora do alinhamento natural.
Quando saímos fora da nossa zona de conforto imaginamos mil e uma coisas más que nos podem acontecer, mas não imaginamos as mil e uma coisas boas que nos podem acontecer e que realmente acontecem muito mais facilmente do que as más. É impressionante! Há muitas mais pessoas prontas a ajudarem-nos do que pessoas a aproveitarem-se de nós, seja lá da forma que for. E quanto mais vulneráveis estamos, mais nos surpreendemos.
Lembro-me na Colômbia e na Costa Rica de ter sido ajudada por outras mulheres e familiares das mulheres, porque me viam a viajar sozinha de mochila às costas. Uma ofereceu-me boleia e dormida, depois de uma conversa num voo interno, outra fez questão que o irmão fosse 3km a pé comigo até ao meu albergue para eu não correr o risco de ser assaltada em San Jose, capital da Costa Rica.
Pessoas que não esqueço, apesar de não saber o nome delas nem fazer ideia quem elas são.
Sinto sempre que não há forma adequada para retribuir tudo o que nos oferecem quando estamos em viagem. Recebo muitíssimo mais do que consigo dar. A única retribuição é fazendo o mesmo a alguém que precise.
E é assim que alimentamos esta cadeia 🥰
Faltam agora menos de 50km para chegarmos a Santiago!
Seguimos juntos! 😊🚶
Dia 7 - Tivo a Padrón (21,6km)
Total percorrido: 184,98km
Acordei com aquele sentimento quando estamos prestes a ir de férias, após um último e difícil exame da faculdade. Já estamos muito perto de Santiago e sinto um misto de sentimento de realização com um sentimento de cansaço e alguma tristeza. Basicamente não consigo dar saltos de alegria, porque doem-me os pés como o raio... 😛 Emocionalmente sinto-me cansada também. Há muita coisa nova a estimular-nos todos os dias, novas pessoas que encontramos pelo caminho, novas dores, novos músculos que descobrimos ter no corpo, novos desafios, pensamentos. Há um permanente check ao nosso corpo e à nossa mente. Cada dia há emoções diferentes para acolher.
O 7° dia foi tranquilo, com pouco mais de 20km de caminhada. Estava com muito pouca energia, cansada do dia anterior, em que fizemos quase 40km de caminhada. Foi o dia da ressaca.
De manhã voltamos a encontrar um grupo de portugueses e alemães que tínhamos conhecido no dia anterior e, ao final do dia, voltamos a encontra-los no nosso albergue. Aproveitamos e juntamos a roupa de todos e pusemos a lavar na máquina. Assim já não tivemos que lavar a roupa à mão 😊
Como a mochila pesa nas costas, só trago 2 roupas, a que tenho vestida no corpo e outra suplente para quando tomo banho. Todos os dias lavo a roupa que usei naquele dia.
Faltam agora 25km para chegarmos a Santiago! Nem posso acreditar que estamos tão perto! Já nada nos pára 💪😁
Seguimos juntos! 😊🚶
Dia 8 - Padrón a Santiago de Compostela (25km)
Total percorrido🚶210km
Chegamos a Santiago!!! 💪😁
Fizemos 25km seguidos de manhã e viemos almoçar já a Santiago. Isto é que foi uma maratona! Nunca tinha feito tantos quilómetros a pé em tão pouco tempo!
Como se não bastasse, à tarde fizemos mais 10km a passear em Santiago de Compostela 🚶
À chegada sentamo-nos no chão da praça da Catedral. Vimos as pessoas a chegarem, num ambiente de festa, palmas, muita alegria, gargalhadas, muitas fotografias.
Vimos turistas, peregrinos a pé, de bicicleta. Alguns a dormirem no chão. Estávamos exautos e a minha maior preocupação era se alguém me pisava os pés sem querer... 😬
Agradecimentos
Grata a todos os órgãos e músculos do meu corpo que permitiram fazer esta jornada de 210km em 8 dias!
Grata ao nosso companheirismo ao longo do caminho e virtualmente nas redes sociais, que nos dá força em momentos de crise! Houve dias em que acordei com menos motivação, mas ao ler os vossos comentários senti que não éramos só nós a fazer este Caminho, mas que éramos muitos mais 🥰🙏
Grata à minha teimosia, mania que sou forte e durona e que faço tudo 😁 Sem ela faria bem menos coisas e perderia um pouco da magia que acontece quando me desafio. Por outro lado, ganharia outras coisas... 🤔 mas deixa lá isso agora... 😅
Estou com vontade de repetir a proeza (numa pedalada bem mais lenta e talvez outra rota) na segunda quinzena de Setembro. Alguém alinha? 😁
Arranjávamos aí um grupo maravilha 💪😁
Grata aos que nos acompanharam nesta jornada e nos encorajaram 🙏
Seguimos juntos para novos desafios! 😊🚶
Beijinhos e abraços e sejam felizes!
Encontramo-nos na próxima história de desenvolvimento pessoal 😉
Raquel
Digital Nomad, Blogger, Traveller, House & Pet Sitter